Primeira semana do PEQUENO GRANDE ENCONTRO DE TEATRO PARA CRIANÇAS
Entre tantas distrações e uma
objetividade pungente no mundo de nossas crianças, muitas vezes, nos
perguntamos se ainda é possível se comunicar, com eles, através do mundo dos
sonhos, num rito, visto por muitos, com certa aura anacrônica: o teatro. Como é
possível fazer para desliga-lo do seu celular e suas tecnologias e
contemplar/vivenciar a experiência do rito teatral? Mesmo com toda sua
importância, a pergunta cai no vazio ao presenciar devotos colegas, dedicados
com a convicção de monges e pajés e missionários persistentes nos mostrando a
velha arte de contar histórias e encantar crianças de todas as idades.
Assim um clássico como “O Flautista de
Hamelim”, da trupe da Cia do abração, vestido e animado com a alma nordestina,
vira O Flautista/pifanista Ramelim
com seu prefeito Raimundo, político de valores invertidos, provocando a ira da
plateia.
A Cia Pé no Palco nos espelha a aceleração do tempo com seu iniludível
crescimento, demográfico e urbano, comprimindo a memória e as “velharias”, mais
ainda assim propõe ser possível preservar espaço para as cores e adaptar
tradições em “O caminho dos girassóis”.
Já El Chonchón da Argentina com a
simplicidade dos bonecos de luvas transporta os mais novos no encontro com
mestres do cinema mudo e às crianças mais vividas a saudade de uma arte ingênua
e crítica, em Los Cómicos del novecientos”
com personagens como Charles Chaplin, Buster Keaton, Harold Lloys, Ben
Turpin, Laurel e Hardy nos transporta com mãos de mestre ao mundo do novo amigo
Miguel.
Uma turma barulhenta pelo medo do obscuro
da sala foi levada à velha caverna e se encantou com as historias do Sacy Pererê, contadas, pela turma do Teatro Lumbra, através da linguagem do teatro de sombra, talvez o cinema mais antigo que a humanidade já conheceu.
Vivemos uma semana de encontros e esperamos ter deixado alguma luz nos sonhos de quem partilhou conosco.
Vivemos uma semana de encontros e esperamos ter deixado alguma luz nos sonhos de quem partilhou conosco.
Todas estas experiências nos mostraram
que ainda é possível contar historias, antigas, novas, e de diferentes maneiras
às crianças. A curiosidade e a vontade de ouvi-las estão latentes, só basta
saber conta-las e querer conta-las.
Para continuar a caminhada por outros
caminhos e utopias, uma animada conversa com Ilo Krugli e Gabriel Guimard, nos
transporta aos sonhos da vida vivida e contada com a esperança de que a memória
as guarde e as recrie no caso do Ilo e para alertar-nos da necessidade de nos engajar
na causa de juntar desejos de encontros, seja por redes ou por organizações ou
eventuais ações que nos permita ter voz e ser ouvidos no caso de Gabriel.
Ninguém melhor que o poeta para
espelhar o sentimento, apesar das despedidas:
(...) Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.(Fernando Pessoa)
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